Alguns dos mais recentes produtos web lançados no mercado, sejam aplicativos ou serviços on-line, têm uma estratégia em comum: gamification – que se trata da inclusão de mecânicas de jogos em conteúdos, projetos ou processos que não são classificados como jogos.
De acordo com a Gartner, líder mundial em pesquisa de tecnologia e informação, 50% das empresas já utilizam estratégias de gamification para alavancar com mais rapidez e precisão seus objetivos de marketing, negócio ou educação.
Portanto, os jogos não são mais usados apenas como entretenimento, na verdade, eles são considerados uma ferramenta eficaz e poderosa que enriquece principalmente as experiências de aprendizagem. As mecânicas de jogos utilizadas podem ser as mais variadas. Mas você sabe de que maneira essas ações agem sobre nosso comportamento e por que somos motivados por elas? Entenda a seguir.
Adoramos uma competição
É mais do que comum a existência de disputa em qualquer tipo de grupo. Inclusive, a biologia confirma que a competição é considerada uma das formas da espécie humana obter sua evolução contínua. Sendo assim, entrar em uma competição para buscar ser sempre o melhor é algo quase inevitável para a raça humana.
Além disso, talvez você já tenha ouvido a expressão “to jump on the bandwagon”, que, resumidamente, significa “entrar na moda”. Mas o que isso tem a ver com competição? É que, por mais que cada um tenha sua personalidade ou características e gostos específicos, buscamos sempre um ideal compartilhado, uma identificação. Muitas vezes estamos à procura de coisas em comum para não nos sentirmos um peixe fora d’água.
Nesse sentido, uma das mais importantes mecânicas dos jogos, além de instigar a participação ativa de cada membro em busca pela ocupação do primeiro lugar, também evidencia o quanto é importante a existência de mais pessoas para nos sentirmos parte de um grupo. Então, além de inconscientemente agirmos conforme o bando para nos sentirmos parte do movimento, queremos sempre, de preferência, estar à frente dele.
Queremos sempre mais
“Ah, essa aí é fácil”. Claro, sempre queremos mais, e isso está diretamente ligado à nossa busca por recompensa. Mas como isso funciona na nossa mente e por que as marcas precisam aproveitar mais esse recurso?
Sabemos que desde pequenos agimos pensando em recompensas. Essa é uma demanda constante do ser humano. Ainda assim, vejo muitas marcas solicitando, por exemplo, preenchimento de formulário ou respostas de pesquisas por telefone sem dar nada em troca para o seu cliente. Agindo dessa forma, as chances de conseguirem o que querem (informações sobre o cliente, nesse caso) é bem remota. É preciso entender que quanto melhor for a recompensa, mais fácil será de ter um retorno efetivo sobre as ações da empresa.
Isso não significa que é necessário realizar grandes investimentos em materiais ou presentes, é importante aprofundar melhor essa tática e analisar o que é valioso para o seu público, o que ele considera como uma boa recompensa. O cérebro humano às vezes precisa apenas de um estímulo, que pode funcionar a partir de mecânicas de feedbacks ou premiações simbólicas. O importante é dar a sensação de progressão, pois o que sempre buscamos é estar em constante avanço – ou seja, queremos sempre mais.
Somos movidos pela emoção
Com tanta informação à nossa disposição, nossa maior dificuldade nos dias de hoje resume-se em continuarmos motivados e mantermos o foco no que estamos fazendo. Pedro Camargo, especialista em comportamento do consumidor, explica que quando há uma distração durante a absorção de uma mensagem não há codificação ou esta não é feita de maneira adequada, “tornando-se indisponível na memória”. Ou seja, quando alguém está focado em algum conteúdo e, por algum motivo, se distrai, deixa de codificar a mensagem de maneira que ela fique guardada na memória.
Uma das formas de mantermos o foco e o interesse por um determinado assunto é ativar o maior número possível de áreas do cérebro. Quanto mais áreas ativadas, maior é a chance de você se manter atento e motivado naquele determinado conteúdo. De acordo com estudos de Neuromarketing, táticas de storytelling têm sido o que mais tem provocado diferentes emoções e, por consequência, absorvido mais a atenção público.
Isso acontece porque já pensamos diariamente em forma de narrativa, é uma maneira natural e simples do ser humano pensar, imaginar, criar coisas e, assim, aprender. Este é um dos grandes motivos pelos quais nos mantemos superfocados e concentrados quando o assunto envolve alguma história – outra estratégia importante usada na construção de conteúdos com mecânicas de jogos.
Além disso, queremos vivenciar determinadas experiências e avançar com elas. O lúdico, proporcionado pelo jogo, nos leva para dentro da dimensão da narrativa, ativando inúmeras partes do nosso cérebro e fazendo com que não esqueçamos o que vivenciamos nesse contexto.
O que diz Brian Burke?
Para trazer o que há de mais novo nesse tema, consegui uma entrevista exclusiva com o especialista em gamification Brian Burke, de Nova York. Ele nos explica como as técnicas e mecânicas de jogos são utilizadas para acelerar o aprendizado. Confira a seguir e aprenda mais com ele:
Você acredita que essa estratégia pode alcançar todas as áreas?
Gamification pode ser utilizado de diversas formas para engajar e motivar pessoas. Por exemplo: para aprender uma nova habilidade ou tornar-se mais saudável. Mas não é útil em uma área onde não há alinhamento entre os objetivos do público e os objetivos do “game”. Gamification não fará as crianças comerem brócolis, por exemplo. Gamification é bom para motivar pessoas a atingirem os seus próprios objetivos. Quando o objetivo da empresa está alinhado com os objetivos dos jogadores, o gamification pode ser utilizado para motivar pessoas a atingir seus objetivos e, então, os objetivos da empresa serão atingidos como consequência.
Você diria que a mecânica dos jogos está em todos os lugares? Existe espaço para grandes potenciais de crescimento para estratégias de gamification?
Ainda existem muitas oportunidades para introduzir gamification em diversas áreas. Essa estratégia é quase universalmente aplicada no segmento fitness e também no engajamento das pessoas em inovações. Mas existem algumas áreas onde o gamification está realmente só começando a ser utilizado, como em treinamentos e em atividades voltadas para o aumento de produtividade de colaboradores, por exemplo – há grandes oportunidades de crescimento nessas duas áreas e eu tenho certeza que existem muitos usos para gamification que ainda nem pensamos sobre.
Que conselho você daria para empresas que estão começando a utilizar estratégias de gamification – na área de e-learning por exemplo?
Um conselho básico que se aplica a todos os usos é o alinhamento aos objetivos do jogador. Especificamente em plataformas de e-learning, eu sugiro o uso de uma abordagem de aprendizagem empírica ao invés de uma abordagem de aprendizagem por hábito. O gamification se dá bem com as duas abordagens, mas é particularmente útil em aprendizagem empírica. O gamification pode ser aplicado com simulações para ajudar as pessoas a aprenderem por experiência – assim como pilotos aprendem a reagir a vários tipos de emergências utilizando simuladores de voo.
E aqui vai uma dicaduka: Quer se aprofundar mais nesse tema? Recomento o livro Gamify: How Gamification Motivates People to Do Extraordinary Things, de Brian Burke.
Este texto foi escrito pela querida Gabi Gonçalo, ex-aluna da Sustentare Escola de Negócios – Joinville e especialista em gestão de marketing com mais de 10 anos de experiência. Formada na área de Comunicação e com MBA em Marketing, hoje atua como coordenadora de Marketing da startup Exact Sales e é colunista do premiado blog Ideia de Marketing ” www.gabigoncalo.com.br
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